Uma Vida Navegando nas Ondas do Rádio

* Jurandir Antonio Francisco

Passei minha infância e adolescência em cidades pequenas do interior de Minas Gerais e Goiás. Nessa fase da vida, tive o rádio como a principal fonte de informação e formação.

No rádio daquela época tinha de tudo: transmissão de jogos de futebol, rádio novela, missa, aulas em capítulos, o embrião do EaD (Ensino a Distância), que conhecemos hoje, programas de música caipira, recados, notícias e muito mais. Era pelo rádio que a gente ficava sabendo o que estava acontecendo no Brasil e no mundo.

Nessas pequenas localidades, eram poucos os meios de comunicação. Televisão só as famílias mais ricas tinham. As pessoas se comunicavam ainda por cartas, transportadas pelos Correios, e com muita dificuldade e um pouco de sorte conseguiam falar pelo telefone fixo. Ter acesso a um jornal impresso ou revista era raridade.

Mas o rádio, como é atualmente, era o meio de comunicação mais acessível. Por funcionar a pilha, atingia as regiões mais remotas, como distritos, fazendas, sítios e comunidades de povos originários que viviam muito longe das cidades. O país tinha poucas emissoras, mas algumas delas com alcance nacional, e contribuíam para integrar o país.

Em 1977, cheguei em Goiânia, como cantou Belchior, “um rapaz latino-americano – sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”, para estudar na capital. Depois de cursar o segundo grau, prestei vestibular para o curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, e fui aprovado na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Já no segundo ano do curso, comecei o estágio curricular na Rádio Universitária AM da UFG, onde fiquei por quase três anos. Foi o encontro prático com o veículo com o qual tinha uma ligação afetiva desde criança. De lá pra cá, o rádio entrou na minha vida de forma definitiva. Uma paixão eterna.

Do início do curso de jornalismo até hoje, são 45 anos de dedicação e trabalho para o veículo de comunicação mais popular e democrático do país.

A primeira transmissão oficial de rádio no Brasil aconteceu no dia 07 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da independência do país. Portanto, o rádio completa 102 anos de existência no Brasil este ano.

O rádio passou quase 90 anos estático, com poucas mudanças no seu modo de geração ou transmissão, e também na forma de fazer ou produzir e de ouvir. Mas, nas duas últimas décadas, o chamado “rádio raiz” foi impactado por transformações tecnológicas que obrigaram os profissionais que atuam no veículo a abandonar “a zona de conforto”.

No próximo artigo, vamos abordar as transformações vividas pelo meio rádio nos últimos anos com o surgimento de novas mídias, a migração do rádio AM para o FM e o impacto das novas tecnologias na formação e qualificação dos profissionais que atuam no veículo.

*Jurandir Antonio Francisco, o Jura, é jornalista, ex-Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso e editor do site de notícias faladas Sapicuá Rádio News.